para onde vão as pessoas quando morrem? depois de tanto falarem, as gargantas ficam simplesmente mudas. as mãos, que tocavam baquetas, escreviam à exaustão sobre amor e dor, já não se movem mais. para onde vai a energia, a vibração das gargantas e o calor das mãos? o universo do corpo se decompõe, fibra após fibra, célula após célula. mas para onde vai o desejo, o frio na barriga, as borboletas no estômago, o arrepio? para onde vai o perfume capturado no ar, todas as imagens de todos os anos vividos, os sabores inconfundíveis, das manhãs e bebedeiras, os sons fisgados no vento? para onde vai a vida quando o corpo morre? o coração, quando cansado de morrer de amores busca outras paisagens. mas para onde vai o coração cansado e suas batidas em compasso intermináveis? as vozes metamorfoseadas com o passar dos anos, os anos, a infância? para onde vai a infância quando o corpo morre? para onde vai a infância quando o corpo cresce? quando a palavra de ordem é mate ou morra, para onde foge a vida?
aos companheiros de geração mortos pelo vício.
Um comentário:
Esse ótimo texto sintetiza muito bem tanta coisas que me passaram pela cabeça com a morte da Amy Winehouse. O sentimento estranho de pensar que aquele corpo não mais existe é nauseante.
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