Pesquisar este blog

segunda-feira, 25 de abril de 2011

uma noite no botequim



ele estava lá, adivinhando os sons da vida dela. aquele personagem subiu o degrau de casa, o palco, e soltou o vozeirão de bluesman. would?, piano bar e love me two times, finalmente. barba crescida, presença gigantesca que derramava pequenas lágrimas de uma emoção que ninguém, a menos que tenha pisado em um palco, poderia decifrar. dedicou a última música à moça agarrada à pequena máquina fotográfica, que a apertava incansavelmente para enganar as suas lágrimas que tentavam sair. quatro dias depois estariam no don pita, fazendo planos e trocando autógrafos. ela, pretensa a escritora; ele, músico talentoso há anos, futuro pai dos filhos dela. a casa estava planejada na mente de ambos. a cerquinha branca, a rede na varanda, a horta, o jardim, o sótão, que seria o esconderijo das duas almas que finalmente encontraram o amor, antes que a morte os levasse. uma espécie de milagre amoroso, um daqueles encontros do destino, aquela junção de almas que não se vê em qualquer esquina. estava tudo planejado. o verbo amar conjugado no presente, sem exceções, só excessos. ela o amou desde a primeira frase, do primeiro olhar, do primeiro beijo, do primeiro choro. ele também. ela tinha vontade de levá-lo na mala e cuidar daquelas feridas, assinar contrato para ter todas as noites e manhãs aquele olhar que a penetrava, aqueles planos guardados entre as paredes do don pita, aquele toque intenso de quem sabe onde pisa. na penumbra, longe dele, na solidão do seu quarto, lembrava do rosto que ganhava tons pardos na escuridão da madrugada, da barba que roçava no seu pescoço, que se contorcia. ele iria atrás dela, largaria tudo, começaria de novo, pegaria carona. os dois fariam um canto, um daqueles ninhos intocáveis, que preencheriam de sonhos. ele, peixes; ela, escorpião. mundo de sonhos profundos e suspiros sem fim. ela era dele e vice & versa. pela primeira vez, podiam se ver amando o mesmo ser até o final. pela primeira vez, amavam de verdade. pela primeira vez, a verdade.

Simplesmente amor

Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas, chuva de asas,
e eu sem pão para dar, tão somente
deixo-os vir. Talvez
seja isto uma árvore,
ou quem sabe,
amor.
















Julio Cortázar

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mordidas leves & suspirantes

Este é um texto de agradecimento. Mas não um simples texto de agradecimento. Tenho elaborado ele mentalmente há alguns dias, mas não havia encontrado o tempo certo, as palavras certas. Há pouco mais de 15 dias, eu tinha uma ideia: ir embora, para qualquer lugar. Porto Alegre, São Paulo, ouvir somente a mim, o meu coração. Por mais consciência que eu tivesse, ela não era forte o suficiente para me fazer entender que não era o lugar, era eu.
Bem, eis que há 15 dias apareceu uma daquelas propostas irrecusáveis e eu resolvi ficar por aqui por mais um tempo. Só sei que, pela manhã, quando acordava para pegar o ônibus verde que para apressado na minha esquina, em meio aquela leve neblina de início de outono, eu pensava: “Meu deus, como esta rua é linda. A Jardim Europa é a rua mais linda da cidade.” E então, quando eu parava numa certa altura da Nereu, até chegar à Barão do Rio Branco, no Edifício Porto (ironia), eu pensava: “Não há lugar melhor do que este.”
Todas as ruas pelas quais eu passava, não eram mais as mesmas, os lugares não eram os mesmos, porque eu não era mais a mesma. Ao chegar nos restaurantes já conhecidos ou não, naqueles minutos que dividem a manhã da tarde, eles não eram mais os mesmos; e ao voltar para casa, já cansada, porém feliz, às 18h, eu pensava: “Essa é a casa mais linda da cidade. Um paraíso. E as pessoas que moram aqui, pequenos paraísos, presentes de Deus.”
Alguns dias se passaram e as surpresas continuaram, como um eterno feriado com pitadas de confeitos. Ele surgiu. Sabe ele? Aquele cara que a gente espera por anos e anos e, que de repente, quando a gente resolve amar a si mesma e ponto final, ele aparece? Eu estava muito feliz sozinha com os meus dias preguiçosos. Eu estava muito feliz, mesmo. Mas então ele surgiu e deu ares ainda mais surreais para aquela paisagem toda. Daquele tipo que liga, daquele tipo que se importa. Peça rara que encontrei por acaso, caso o acaso existisse.
Sabe aquela vontade de congelar o tempo? É isso que eu queria poder fazer nestes instantes. Congelar o tempo para não minar os dias com a minha desconfiança, com a minha tristeza crônica. São cicatrizes de um longo período de sofrimento, que me viciaram, pior do que chocolate, cafeína ou tabaco. Bem, eu não tenho um destes aparelhos-congeladores-de-tempo-ou-de-humor. Mas, sabe? Se eu morresse hoje, morreria feliz por ter sentido estes instantes preciosos da alma para fora.
Não sei se foram as rezas da minha mãe, que queimou tantas velas nos últimos dias, ou o que. Pode ter sido, já que as mães são seres de milagres, afinal elas provem a vida, com a ajuda de algum serzão que está em tudo. Não sei se é chamada Lei do Retorno, algum merecimento, algum sonho daqueles que você demora para acordar. Seja o que for, esta dita felicidade é mesmo um tanto doce. Não doce daquele que enjoa; doce daquele jeito, no ponto certo, que dá vontade de experimentar mais um pouquinho, com mordidas leves e suspirantes.

Fabita .
14/04/2011

Guarda-te-lá é apresentada em São Paulo


Para Rachel Kleinubing, a exposição na capital paulista é um reconhecimento do valor artístico do trabalho

Depois da exposição fotográfica “Guarda-te-lá”, em agosto de 2010, na Casa + Arte Galeria, a jornalista e fotógrafa Rachel Kleinubing recebeu uma sugestão da marchand Mirian Soprana para que inscrevesse suas obras no Salão de Verão 2011 da Organização Paulista de Arte e Galeria Malli Vilas-Bôas, em São Paulo.
E foi o que ela fez. Entre 208 artistas, apenas 34 foram escolhidos e, uma delas, era Rachel, que ganhou o Prêmio Destaque em Criatividade do Salão de Verão, em fevereiro deste ano. Agora, ela participa da exposição “Pintura, Fotografia, Detalhes...”, com as obras de “Guarda-te-lá”, ao lado de Beth Sallai, artista que ficou em primeiro lugar no Salão de Verão.
A exposição acontece na Galeria Malli Villas-Bôas na capital paulista. O coquetel de abertura aconteceu no dia 14 de abril. As obras da fotógrafa chapecoense ficam em exposição de 15 a 30 desse mês, de segunda a sexta, das 11h às 21h; sábado, das 13h às 22h. O evento tem apoio da Secretaria do Estado da Cultura, Governo do Estado de São Paulo e Sinapesp (Sindicato dos Artistas Plásticos do Estado de São Paulo).

Uma volta no tempo e no espaço

Rachel deu seus primeiros passos em direção à fotografia no laboratório de Fotojornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), onde pôde fazer suas experiências fotográficas. De lá para cá, muita estrada foi percorrida.
As fotos que compõem a exposição de Rachel foram feitas para o Projeto Experimental de Conclusão do Curso de Jornalismo. Uma grande reportagem fotográfica intitulada “Guartelá – Formas Desnudas”. “Foi custoso. Naquela época de universitária, tudo era oneroso. Usei 10 rolos de filme de 36 poses e isso na época era muita foto... E havia ainda o custo do papel fotográfico!”, revela a fotógrafa, lembrando a diferença entre a fotografia de meados dos anos 1990 em comparação à fotografia digital de hoje.
Na época, contatou empresas paranaenses em busca de patrocínio, mas nada conseguiu. Seu trabalho, muito ousado para a conservadora Ponta Grossa de 1996, só ganhou uma exposição 15 anos depois, na Casa + Arte, em 2010. Para realizar a exposição, as obras de “Guarda-te-lá” foram scanneadas de pequenas cópias, o que atribui a elas ainda mais valor. São obras que surgiram de um processo complexo, cujas tiragens são mínimas.
Para Rachel, a exposição em São Paulo é uma confirmação do valor artístico do trabalho como fotógrafa. Mais do que as obras de “Olhar de Contemplação”, exposição anterior de Rachel que apresenta um olhar particular para cenas reais, as obras de “Guarda-te-lá” têm uma linguagem artística mais apurada, pois são cenas criadas e intencionais. Em todo esse tempo em que o trabalho ficou guardado, Rachel também guardou alguma certeza, uma certa esperança de que haveria o momento certo de apresentá-lo. “Este reconhecimento de agora me faz pensar que essa esperança fazia sentido e que este é o momento perfeito”.

Conheça um pouco mais do universo da artista em seu portfólio na Web: http://rachelkleinubing.olhares.com

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Assessores de imprensa X galera da redação


- Alô, Caderno de Cultura.
- Boa tarde, com quem eu falo?
- Pedro.
- Pedro, aqui é o Edson, da Pauta Criativa Comunicação, tudo bom?
- Edson, estamos no fechamento. Liga depois, por favor.
- Vocês receberam o release do show do Bee Gees Cover?
- Não sei, mas agora não vai dar pra ver isso.
- Pedro, é só uma checadinha.
- Cara, não deu pra entender que estamos no fechamento?
- Mas é rapidi...
(tu-tu-tu)


- Vou mandar as perguntas por e-mail, ok?
- Fátima, nosso diretor comercial é muito ocupado e prefere atender a imprensa por telefone. É mais ágil.
- Querido, eu também sou muitíssimo ocupada aqui na redação. Vou mandar por e-mail mesmo.
- Quantas perguntas são, Fátima?
- Umas 20?
- Vinte?
- Vinte. Algum problema?
- Bom, vou ver se ele consegue responder tudo até sexta.
- Querido, tá louco? Aqui é jornal diário. Preciso das respostas em, no máximo, no máximo, uma hora. E presta atenção: quero também foto em alta resolução. E boa, hein?


- Bom dia, eu queria falar com o chefe de Reportagem. É o Marcos Araújo, né?
- Olha, o Marcos não trabalha aqui no jornal há mais de um ano.
- Mas tenho certeza que ele abraçou um novo desafio profissional.
- O Marcos morreu.
- Putz, morreu? Eu sinto muito mesmo. Não sabia.
- Tudo bem.
- Me desculpe. Estes mailings de imprensa vivem desatualizados.
- Tudo bem.
- Deixa então eu aproveitar pra falar da minha pauta com você mesma.
- Manda pro meu e-mail, por favor, que depois eu leio com calma. Pode ser?
- Vou mandar, sim, mas antes quero falar do novo tratamento para remoção de manchas na pele que é bár-ba-ro. Sabe bárbaro?
- Olha, você ligou no Caderno de Política. Ciência & Saúde é no ramal 3526.
- Tuuuudo bem. Vou ligar pra lá agora.
- Só um detalhe: o pessoal lá só chega à tarde.


- Alô.
- Alô. Edson? É Pedro, do Caderno de Cultura, tudo jóia?
- Sim, Pedro, do Caderno de Cultura, tudo jóia.
- Deixa eu te perguntar uma coisa, amigão: você tem ingresso sobrando pro show do Bee Gees Cover? Minha namorada adora Bee Gees, tá louca pra ir.
- Vocês não deram nem uma notinha, né? Viu pelo menos o release?
- Pois é, não teve espaço. Fica pra próxima. O show promete, hein?
- O show promete.
- E o ingresso rola?
- Pode ser, pode ser. Aguarda só um minutinho na linha que eu vou falar com a minha gerente.
- Tudo bem.
(tu-tu-tu)

Fonte: Desilusões Perdidas

domingo, 10 de abril de 2011

Gustavo Telles e Os Escolhidos

Do seu amor, primeiro é você quem precisa (2010)
01 – Do seu amor, primeiro é você quem precisa
02 – Passo a passo
03 – Faltou luz
04 – Quero mais
05 – Jogos mentais
06 – Girando em descompasso
07 – Só Deus sabe
08 – Deixa crescer
09 – O silêncio me impede de esquecer
10 – Pra acordar
11 – Posso me perder
12 – Tell Me Why

algumas coisas que aprendi com o tempo

- não espere ser quem você quer ser ou ter o que quer ter para amar a si mesmo;
- não é preciso ser perfeito para dar e receber amor;
- há sempre alguém que pensa/sente semelhante a ti;
- escolha, não seja escolhido e seja exigente nas escolhas;
- estar só é uma das circunstâncias mais prazerosas do mundo e uma chance de se conhecer melhor e não repetir os mesmos erros;
- por mais forte que uma pessoa possa parecer com sua maldade, nada é maior do que a bondade e o amor;
- a lei do retorno é infalível;
- tudo pode ser dito, desde que se use as palavras adequadas;
- quem não se aceita, não aceitará ninguém; quem não se ama, é incapaz de ver beleza nos outros;
- não importa o lugar em que você mora, onde está; o estado de espírito transforma tudo e renova o velho;
- é possível ter milhares de vidas em uma; milhares de vidas no mesmo lugar, com a mesma pessoa;
- se você quer fugir, ir embora, abandonar algo ou alguém, é porque ainda não se encontrou em si ou o que estava procurando;
- não se deixe paralisar pelo medo; se está sofrendo, tente resolver; se não der, procure outras opções;
- o ser humano tem direito de sentir paz e amor e isso é possível;
- se você está infeliz, contamina o ambiente e suga as energias de quem está por perto;
- é preciso bastar a si mesmo; quando descobrir prazer na solidão, encontrará a companhia certa;
- amar a si mesmo, antes de tudo, é preceito básico para viver bem;
- dê mais, peça menos;
- não procure alguém para se sentir amado;
- a companhia é apenas algo que deve aliviar a dor da vida; não se torne dependente;
- beleza e dinheiro acabam; os valores da alma ficam;
- a arte é maior do que a personalidade; o legado é maior do que tudo; preocupe-se em deixar algo de bom no mundo, uma marca, um vestígio;
- se ansiedade e violência resolvessem, o mundo estava resolvido;
- todos merecem amor;
- se receber ódio e indiferença, retribua com amor; o amor pode ensinar, mais do que qualquer outro sentimento;
- se falar mal das pessoas resolvesse, não haveria tanta gente infeliz;
- pressão e grito só resultam em distância;
- é preciso respeitar o tempo do outro e o jeito dele amar;
- não estamos aqui por acaso;
- a natureza está em tudo, em nós também;
- deus está em tudo;
- independente de você acreditar ou não, há algo maior do que eu e você.

sábado, 9 de abril de 2011

sobre a saudade



entre todos os temas em mente, a saudade é o tema principal desse sábado de outono. a saudade tomou conta do peito, da cabeça, do quarto, da casa toda, do quarteirão, da cidade, pegou um teletransporte e foi até você. nina simone não ajuda quando a saudade vem. ela a embala com aquele ar melancólico de fim de noite, em um bar prestes a fechar, onde eu sou a única mulher na mesa ainda esperando, esperando a saudade passar. sou difícil de tocar. poucos tocam. porque antes de tocar a mim, é preciso tocar na minha dor. e essa, essa dor, recheada de saudade, é quase intransponível. você quase, quase não pode entrar. meus olhos, sem os óculos, só miopia. meu abraço sem o teu, letargia. se eu gritar daqui dessa cama que já sente o frio chegar que te amo, você iria me escutar? quem sabe onde esteja, por mais alto que esteja o som, quem sabe você possa me escutar. você me tocou. como? ainda não sei. não somos tão parecidos assim, mas também nem tão diferentes. tenho te esperado durante todo esse tempo. meio sem querer, te esperei voltar. não deixei ninguém mais me beijar daquele jeito. minha boca ainda é tua. eu preciso apenas de um sinal para seguir e se ele surgir, quero que tudo mais vá para o inferno. foi meu bandini nos dias de glória. fui tua camila, quando já não tinha para onde voltar. lembro de uma noite que tu dizia que minha dor doía em ti; lembro da primeira vez que te olhei com olhos curiosos e que te vi retribuir. eu estava encostada em um muro de berlim, mochila nas costas, pronta para uma nova aventura que se tornou tortura, se não fosse por ti. ou seria você o maior motivo da minha tortura? eu sorri, você retribuiu, olhando para trás. te achei tão menino. e eu, tão mulher, me descobri menina nos teus braços. ninguém mais irá te abraçar daquele jeito, visceral. eu te amei 24 horas por dia. me julgue, se quiser, mas amei. e por alguns instantes, entre os boletins e tédios diários, talvez tenha sido amada. senti teu medo e teu medo te engoliu. teu medo quase, quase venceu o meu amor. quase. mas não venceu. te sinto perto de novo, quase posso te ouvir. ouvir aquilo que guarda lá nos porões censurados da tua alma. lá, onde o ar é carregado do silêncio mais denso, eu posso ouvir. e quando você ou eu voltar, vou quebrar o silêncio com a poesia que não viu sair de nenhum outro lugar. e nem verá.

pra ti.

terça-feira, 5 de abril de 2011

uma história de quase-amor

papel pardo amassado, eis o registro

sim, fez todo o sentido você aparecer agora. como um velho fantasma que volta a assombrar o sótão desse velho casarão. fui categórica ao responder o teu chamado, dando uma resposta exata para cada questão. sim, no fim deixei a razão de lado e apelei para a emoção. tão sem estratégias, admiti esse amor que me assola desde o último inverno. agora, novamente escrevo sem critérios sobre essa dor e essa volta. queria pegar o primeiro ônibus e dizer que ainda te amo. seria tolice. mas que vontade que tenho de bater naquela porta novamente e te ver abrir e lembrar daqueles dias em que fomos quase um casal, naquele frio edifício avenida, que vai guardar para sempre a história de um quase-amor.