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quarta-feira, 10 de março de 2010

O NÃO-TEXTO

PROMETI ESCREVER O TEXTO DA MINHA VIDA EM UMA HORA. NÃO VOU. NA CORRERIA DOS DIÁRIOS, NA CORRERIA DO BATUQUE DOS TECLADOS, ELA NÃO SE ENCONTRA. TE VI E PARALISEI. ME VI. ANDARILHA DUM MUNDO DE BOLSOS VAZIOS. NASCI COM BOLSOS FORRADOS. FUREI. NASCI BELA, A BELEZA PERDI. DURMO DE FAVOR NA CASA DA VELHA MACUMBEIRA. RIO GRANDE, BUENOS IRES, VELHO OESTE. NÃO IMPORTA. NÃO SOU NADA, ALÉM DE MAIS UMA. TE VI... PENSO LOGO EM PRECONCEITOS, CHANCES, CAPACIDADES. NÃO FIZ, NÃO FAÇO PARTE. NÃO SOU, NÃO SEREI PARTE. HÁ QUEM LEIA, FAÇA, APRENDA E TRANSMITA. HÁ QUEM NASÇA EMERGENTE, FODIDA, FALIDA, PEQUENA E VIÚVA DE QUEBRANTES. E HÁ QUEM FAÇA DISSO VIDA, SEM CULPA DE NASCENÇA. HÁ QUEM TENHA TALENTO E HÁ QUEM DESPERDIÇA. EU SOU MAIS POSE DO QUE TUDO, MAIS PLÁGIO DO QUE PULSO, MAIS VULGAR DO QUE POEMA. ESSE NÃO É O TEXTO DA MINHA VIDA. ESSE TEXTO NÃO É MEU. EU NÃO RELI, NÃO SOU VOCÊ, NÃO TENHO MEMÓRIA. TALVEZ NUNCA CONHEÇA O VELHO MUNDO. TALVEZ NÃO SAIBA MAIS ATRAVESSAR A RUA SEM QUASE MORRER. MUQUIRANA-SANGUINÁRIA, VÍCIO COR DE VERMELHO LICOR. VI MINHA POESIA NO FOLHETIM DA ESQUINA. A POESIA NÃO ERA MINHA. MEU EGO VIROU PÓ. CAMINHANTE POBRE NA MULTIDÃO. LUZ PELA METADE DOS OLHOS. PIFEI. ENGOLI ASTROLOGIA HOJE, DO CAFÉ AO SERÃO. IGNORÂNCIA COM ROUPA DE CIÊNCIA ANTIGA, ME DEIXE EM PAZ. E TE VI. E TE VI E FIZ DE TI MEU CHÃO. MEU CHÃO ESPERANÇOSO E ESCORREGADIO. VOU CAIR NA PRIMEIRA IMERSÃO. CAÇANDO UM CANTO PARA ESCREVER. NÃO ESCREVO MAIS A MÃO, NÃO ESCREVO SEM MEUS PADRÕES, NÃO VIVO SEM REPETIÇÕES, TENHO A ESPONTANEIDADE DE UM ERMITÃO, TENHO A LEVEZA DE UM TREM DOS ANOS 20. PARE, OLHE, ESCUTE. ESTOU VELHA DE EMOÇÕES. NÃO GUARDEI TEU NOME, DUAS HORAS DEPOIS TINHA ESQUECIDO DE TI. QUEM É VOCÊ? NA REPORTAGEM DA MANHÃ, TU ERA DEUS, NO BOLETIM DA MEIA- TARDE, UM COMPLETO DESCONHECIDO. FUREI O JANTAR PARA ESCREVER. COMI A BATERIA PARA DESCANSAR. GAZEEI A VOLTA PARA RESMUNGAR, EM MIM, NA TELA BRANCA, MINHA E TUA E DE TODOS. E EU NÃO LEIO POESIA. E EU NÃO RELEIO. EU NÃO ME LEMBRO! CORROMPIDA, IMPERFEITA, CRAVADA DE CRAVOS PODRES, DA TUA LANÇA JOGADA EM FLAMAS. RIDÍCULA CHAMA. PEGO O TAXI, MORRO NA CAMA, ME DEIXE EM PAZ, QUIETA, TÍMIDA, VAGA, DE GESTOS FINITOS/////////////////////////