enquanto a velha esposa macumbeira rezava fervorosa, chamando todas as virgenzinhas & santos do corpo celeste no seu transe particular tão bem bolado, influenciado por toda a literatura de ladainhas de uma vida inteira, o velho, de corpo fechado, chegando quase aos cem, caminhava ereto & branco para o “chaleira preta” – uma zona vaporosa de uma rua paralela à flores da cunha, num cais de porto de um passado distante. crê-se que o sexo dele por lá grunhia nos embalos das batidas da umbanda, tamanha a força da bruxa, leitora do baralho cigano de madame lenormand da paris antiga. e ele, que pouco ouvia, pois seus ouvidos foram comidos por negros pelos quentes, deixava a carne impessoal tomar a sua, nojenta, afundando na lingerie, até que decidisse, depois de alguns goles de pinga forte, seguir para casa indiferente. a velha, já cansada de crenças & profecias & esperas, eis que um dia partiu. conta a lenda que nesse dia, na volta do “chaleira preta”, depois de ter levado a comadre e melhor amiga da cartomante para ter com ele no puteiro, o machão chorou. desde aquele dia, dizem as más línguas, que dona macumbeira virou mesmo dona puta e que o velho ereto botou a fazer via-sacra em cada meretrício da cidade, mas agora a procura da reza única da esposa maldita, fugitiva dos pesados cornos. acontece que a dor foi tanta para o pobre velho, que findou lhe trazendo o beijo da morte, talvez sua grande alegria, já que a boca do povo diz ainda vê-lo abrir as pernas da velha mulher nas noites quentes de verão, quando nenhum cliente toma coragem de com ela se deitar, graças às pragas que o marido joga das lonjuras do além-mar...
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