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domingo, 28 de março de 2010
cão de rua
ah, relacionamentos modernos.
tu ficas com teu ovo apunhalado
e eu com meus morangos mofados,
o mistério de um intruso num edifício
e a liberdade de um cão de rua.
sexta-feira, 19 de março de 2010
anões de jardim
quarta-feira, 17 de março de 2010
Formigas lidando com elefantes
Mãe de Pedro Luiz Migott Maciel ainda espera pelo filho que desapareceu em 27 de maio de 2008.
“Somos formigas lidando com elefantes. Ninguém sai da cadeira para ajudar”, desabafa Marines Migott Maciel, mãe de Pedro Luiz Migott Maciel, atleta, ciclista, desaparecido aos 21 anos, em 27 de maio de 2008 em Bento Gonçalves, cidade onde morava.
Trabalhador, sem vícios, Pedro se dedicava exclusivamente ao esporte e ao emprego, em uma empresa de móveis. Além de filho, era amigo e grande companheiro da mãe Marines. “Ele ligava todos os dias do trabalho, ao meio-dia. Só que naquela terça-feira ele não ligou e o telefone dele estava desligado”.
A mãe desconfia que uma pancada na cabeça dias antes teria feito o filho perder a memória. Naquela terça-feira, Pedro saiu para ir para o trabalho, como sempre, e não voltou mais. Marines encontrou os documentos do filho em casa – coisa que ele jamais fizera – e a pia do banheiro ainda seca. “‘Ele saiu de casa tão apressado que não teve tempo de lavar o rosto’, pensei.” Um amigo, que estava no ponto de ônibus, viu o rapaz indo para o lado contrário da empresa em que trabalhava, gritou, chamou, mas Pedro demorou a atinar.
E desde então a mãe se sente indefesa diante dessa situação, conta que o apoio da polícia é quase nulo, já que não há suspeita de crime.
Com ajuda de amigos e parentes, a mãe procura o filho por todo o estado do Rio Grande do Sul, espalhando cartazes com a foto de Pedro, hoje com 23 anos, e um retrato-falado que representa a suposta imagem atual do garoto. “Meu filho está vivo; não sinto o meu filho morto”, afirma Marines, que diz suportar um fardo penoso demais para qualquer mãe.
Em Carazinho, no último sábado, novos cartazes podiam ser vistos em pontos movimentados da cidade, como na praça e arredores. No entanto, a chuva, a má intenção de alguma pessoa ou a preocupação com a limpeza nos locais, resultou na retirada dos cartazes. Já na segunda-feira, os cartazes de Pedro não estavam mais nesses locais.
O que a família espera é apoio para encontrar o rapaz, que nessa altura pode ter se tornado um andarilho e estar sofrendo toda a discriminação que uma pessoa nessas condições sofre no meio social.
Foto e informações sobre Pedro, e de centenas de outras pessoas desaparecidas, podem ser encontrados no site: http://www.desaparecidos.rs.gov.br
FONES PARA CONTATO:
(54) 3454-6259 - 9186-5130 - 9204-0410 ou 9648-3928
terça-feira, 16 de março de 2010
conto do além-mar
enquanto a velha esposa macumbeira rezava fervorosa, chamando todas as virgenzinhas & santos do corpo celeste no seu transe particular tão bem bolado, influenciado por toda a literatura de ladainhas de uma vida inteira, o velho, de corpo fechado, chegando quase aos cem, caminhava ereto & branco para o “chaleira preta” – uma zona vaporosa de uma rua paralela à flores da cunha, num cais de porto de um passado distante. crê-se que o sexo dele por lá grunhia nos embalos das batidas da umbanda, tamanha a força da bruxa, leitora do baralho cigano de madame lenormand da paris antiga. e ele, que pouco ouvia, pois seus ouvidos foram comidos por negros pelos quentes, deixava a carne impessoal tomar a sua, nojenta, afundando na lingerie, até que decidisse, depois de alguns goles de pinga forte, seguir para casa indiferente. a velha, já cansada de crenças & profecias & esperas, eis que um dia partiu. conta a lenda que nesse dia, na volta do “chaleira preta”, depois de ter levado a comadre e melhor amiga da cartomante para ter com ele no puteiro, o machão chorou. desde aquele dia, dizem as más línguas, que dona macumbeira virou mesmo dona puta e que o velho ereto botou a fazer via-sacra em cada meretrício da cidade, mas agora a procura da reza única da esposa maldita, fugitiva dos pesados cornos. acontece que a dor foi tanta para o pobre velho, que findou lhe trazendo o beijo da morte, talvez sua grande alegria, já que a boca do povo diz ainda vê-lo abrir as pernas da velha mulher nas noites quentes de verão, quando nenhum cliente toma coragem de com ela se deitar, graças às pragas que o marido joga das lonjuras do além-mar...
domingo, 14 de março de 2010
fotografias em preto & branco
quarta-feira, 10 de março de 2010
O NÃO-TEXTO
sexta-feira, 5 de março de 2010
Dois minutos eternos
Tânia Rösing esteve no Chile durante os tremores e fala sobre a experiência
Nem ela, nem o esposo se feriram. Mas, para Tânia, a Santiago que conheceu, de arquitetura vitoriana, de igrejas e prédios marcados pelos traços espanhóis, franceses e ingleses, não será mais a mesma. “Santiago estava vivendo um momento atraente. Peças de teatro com personagens da literatura, como Don Quixote de La Macha, e grandes shows folclóricos. Agora não sei o que será”, finaliza.
(Publicado no Diário da Manhã em 5 de março de 2010)
Tremores numéricos
Números. Como acontece em todas as situações de catástrofe e morte, a imprensa divulga números. Número de cidades atingidas, número de graus de magnitude, número de dinheiro investido, número de mortos. Número de vidas perdidas. É o que está sendo divulgado recentemente com os terremotos ocorridos no Chile, Peru e parte da Argentina.
A vida, essa presença misteriosa que habita todos nós. Nós, que somos muito mais do que números, que somos seres subjetivos, contraditórios, ricos em detalhes genéticos, habituais, filosóficos... nesta hora de abalo somos mesmo números. Portadores de RG, CPF e o escambau. Somos nome, sobrenome e idade. Somos um a mais ou um a menos.
E os números aumentam, as vidas perdidas, encaixadas rapidamente em gavetas numéricas. Mas é lógico que a imprensa precisa divulgar os números; é claro que a imprensa é subsidiada por dados. Mas a imprensa também pode olhar nos olhos fundos de quem perdeu família, casa e identidade, desolado no meio dos escombros, e desvendar o sentimento, e sem sensacionalismo.
É só regular o macro das pupilas, desfocar os fundos numéricos e direcionar para a imagem do desolado, daquele que já não sabe mais para onde ir, o que fazer, o que sentir. Deixar a mente gravar o essencial e a lente ler aquelas perguntas direcionadas ao Deus da Fúria, os porquês sem resposta, desencontrados por entre a tralha toda, de roupas em trapos, dos móveis em frangalhos, dos sonhos idos e das lembranças impregnadas.
Como pessoas que somos, como cidadãos do mundo, podemos reconhecer irmãos em qualquer nação, em qualquer idioma, em qualquer território ou fronteira, mesmo que de longe. Filhos do mesmo Deus, da Fúria e do Alento, temos o poder de nos despedir da matemática da dor e abrir espaço para o lado humano, o centro nervoso da vida, que se aproxima, que sente, que compadece e que transmite isso com verdade, acima de tudo.