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sábado, 8 de agosto de 2009

a um mestre de calças


me explica como você pode me conhecer mais do que eu mesma, me explica o calor que emana do meu espírito em contato com o seu, me explica essa saudade mútua que corta, me explica tudo. ando por montanhas que você já não anda, meu medo me impele para os relevos que correm longe de ti. faça um novo exemplar de você mesmo e me envie ou então me espere em outra vida. deixe eu me pintar pra você do jeito que eu quiser, deixe eu me derreter em acordes velozes, deixe eu te pintar com tintas de ácido se eu quiser. tua máscara se dissolve, tua música se alonga, teu peso se dissipa. lembro que te vi, barba crescida debruçada em livros de consulta local; lembro de ti, jaqueta de couro preto abraçando diários poéticos; lembro que te vi, aliança reluzente de ouro dizendo em focos luminosos: “se afaste, quem sabe em outra vida”. lembro de você e de suas crenças, seus ritos, suas histórias dos tempos remotos do universo. somos feitos da mesma matéria. não despertamos nos horários previstos, não escrevemos o que pede a pauta. somos da mesma matéria, poética, inflamada, doente e quase viva. quem sabe em outra vida, quem sabe.

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