seguia o som do velho saxofone que encantonava-se nas esquinas. fazia tanto frio, era noite e chovia. meu cão andaluz era minha única companhia, a única que eu queria. de sua boca, escancarada de língua, saia demoníaco o vapor do inverno. passava pelas pessoas, mas elas pareciam estar paradas, enquanto eu, o cão e a rua estávamos em um movimento louco, ao som do lunático lou reed da minha cabeça (hey sugar, take a walk on the wild side) que cruzava vagabundo com o som da música urbana do lado de fora. e eu pisava distraída nos restos de ilusão vulgar e no abandono da cidade, procurava um rastro de amor em cada alameda cinzenta ou pelo menos uma boca de jazz que me trouxesse de volta o beijo dos anos de estrada. nada. encontro apenas uma lanchonete de quinta e peço um café, preto, como sempre, para a doce e farta marylou detrás do balcão. meu cachorro grunhia de tesão pelos quitutes da espelunca. pobre criatura sem gosto para nada. a escrita, pelo menos eu tinha a escrita, ou achava que tinha. para falar a verdade, jamais havia escrito um livro sequer ou dado qualquer orgulho barato à mãe que esperava por um prato de comida requintada no cair da noite. e eu não almejava a fama, o sucesso, o poder, o dinheiro. preferia morrer anônima em um jornal de interior. quem quisesse que encontrasse os decadentes escritos fragmentados ardentes de dor, de lágrimas e de fossa. não queria ninguém por perto. e viver resultara inútil. e havia a síndrome do pânico e a loucura que enfurecia porta a dentro. adeus, drugues. adeus, devotchkas. porque eu não queria andar na mão correta, porque eu não queria trabalhar em uma daquelas revistas de foto-legenda, porque eu não queria. talvez não fosse uma escolha. talvez não se escolha, conscientemente, os confins da noite, o nó no peito, a solidão induzida, os cafajestes em tons de fuga. a anti-escolha é um adeus ao amor macio, das festas e flores, dos incensos e odores. a anti-escolha apenas é. olho a chuva cair, derreto-me nela, choro com ela. pago, saio e caminho. pobre-inútil caminhante.
Um comentário:
Que delícia ler isso!
Que prazeroso esse momento proporcionado.
Quero mais! ;p
Que influência desses marginais, heim!
Mas deliciosamente prazeroso!
Tá, vou parar com elogios intocantes e nada contribuintes hehehe
Hasta!
bisus, babe.
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