o inverno acabou antes mesmo de começar. não sei se fico triste ou se comemoro. tudo terminou de repente e tão sem jeito de fim e eu tinha tanto pra dizer. queria que você pudesse entender, queria uma chance de dizer, de tentar fazer melhor. mas nem sei se é isso mesmo que eu queria. é tão engraçado como as coisas não fluem. como as palavras ditas & não ditas pairam no ar depois que tudo se vai. o barulho da pequena televisão de circo; o som do velho carro; a edith piaf que você não gostava misturada ao cheiro de incenso, dos lençóis desarrumados, do mousse de maracujá, do vinho tinto que bebi até ver o fim. meus maiores dons eram, pra ti, defeitos exorbitantes. e a recíproca é verdadeira. tu me odiastes pelos motivos errados. eu não te amei pelos mais insignificantes motivos. não gosto do teu perfume, do teu tom de don juan, da tua pele e do teu jeito de menino. tu não és quem eu sempre sonhei, nem eu sou. pra ti, sou uma velha escritora que esqueceu-se de como eram bons os tempos de juventude pois está ocupada demais escrevendo as suas linhas tortas. hilariante. “sim, querido, me sinto jovem outra vez”, dizia eu para amenizar a pergunta desconectada do enfant terrible, quando na verdade queria manda-lo pra putaqueopariu, o mais rápido possível. best sellers? revistas consagradas? músicas oitentistas? ah, meu deus. nossas manhãs despertavam com teus tecnos desesperados & ensurdecedores, e ainda assim eu tinha dias doces. mistérios amorosos. e ele nunca mais vai voltar. mas nunca é tão longo. eu nem sei se quero que ele volte. que tudo fique assim, essa volta revolta sem fim. melhor assim, antes que eu te ame, antes que você me esqueça, antes que o novo mês comece e isso realmente doa. o problema maior, agora, é teu: eis que a tua vida vira crônica.
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