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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Das frases ambíguas

Outro dia estava caminhando na rua e percebi o quanto os homens percebem uma bunda. Uma moça estava na minha frente e um cara muito distante, que passava de carro, gritou: "moça, você tá perdendo a identidade". Do bolso de trás da calça jeans super-apertada, caía mesmo a carteira de identidade da moça. Mas, ouvir naquele tom que a identidade de alguém caía, me alvoroçou. Pensei logo: "vou escrever um texto". Aqui estou, pensando se algum objeto seria possível de carregar verdadeiramente a identidade de alguém e se a moça (ou seria apenas a bunda?) na calçada poderia ter um desdém tão grande com sua identidade que não se importava em vê-la sendo apenas mais uma no achados & perdidos. Será que quem perde a identidade, se encontra? Será que há uma espécie de anarquia em perder a identidade, fazer-se anônimo, indigente, por algum tempo, é libertador? Quem são os donos das carteiras de identidade nos achados & perdidos? Criaturas desalmadas, defuntas, distraídas... Quem são elas nas fotos 3x4? Tão sem expressão, tão feias e abatidas, as pessoas nas fotos 3x4 são múmias modernas. Não sorriem, não choram, não gozam, não têm preferências. São apenas números aborrecidos. Na Matemática urbana, há mais números do que gente, mais carteiras do que identidades.

Um comentário:

Rafaella disse...

Aprecio muito seu estilo despretensioso de escrita, muito bom.