seguia o som do velho saxofone que encantonava-se nas esquinas. fazia tanto frio, era noite e chovia. meu cão andaluz era minha única companhia, a única que eu queria. de sua boca, escancarada de língua, saia demoníaco o vapor do inverno. passava pelas pessoas, mas elas pareciam estar paradas, enquanto eu, o cão e a rua estávamos em um movimento louco, ao som do lunático lou reed da minha cabeça (hey sugar, take a walk on the wild side) que cruzava vagabundo com o som da música urbana do lado de fora. e eu pisava distraída nos restos de ilusão vulgar e no abandono da cidade, procurava um rastro de amor em cada alameda cinzenta ou pelo menos uma boca de jazz que me trouxesse de volta o beijo dos anos de estrada. nada. encontro apenas uma lanchonete de quinta e peço um café, preto, como sempre, para a doce e farta marylou detrás do balcão. meu cachorro grunhia de tesão pelos quitutes da espelunca. pobre criatura sem gosto para nada. a escrita, pelo menos eu tinha a escrita, ou achava que tinha. para falar a verdade, jamais havia escrito um livro sequer ou dado qualquer orgulho barato à mãe que esperava por um prato de comida requintada no cair da noite. e eu não almejava a fama, o sucesso, o poder, o dinheiro. preferia morrer anônima em um jornal de interior. quem quisesse que encontrasse os decadentes escritos fragmentados ardentes de dor, de lágrimas e de fossa. não queria ninguém por perto. e viver resultara inútil. e havia a síndrome do pânico e a loucura que enfurecia porta a dentro. adeus, drugues. adeus, devotchkas. porque eu não queria andar na mão correta, porque eu não queria trabalhar em uma daquelas revistas de foto-legenda, porque eu não queria. talvez não fosse uma escolha. talvez não se escolha, conscientemente, os confins da noite, o nó no peito, a solidão induzida, os cafajestes em tons de fuga. a anti-escolha é um adeus ao amor macio, das festas e flores, dos incensos e odores. a anti-escolha apenas é. olho a chuva cair, derreto-me nela, choro com ela. pago, saio e caminho. pobre-inútil caminhante.
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sábado, 30 de maio de 2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
domingo, 10 de maio de 2009
Recuso-te, silêncio divino
Nego-te, rejeito-te, repilo-te
E encontro mil sinônimos mais
Para dizer que não te quero!
Ora, pois se temos o dom da fala
Que falemos!
Pois se temos o dom de amar
Que amemos!
Una tuas vogais & consoantes
Mexa estrategicamente a tua língua
E fale, criatura, fale!
Encontre o resto de amor que existe
Nesse corpo cafajeste que te toma
E ame, menino, ame!
Pensas que já não podes mais?
Temes o abandono?
Não podes perdoar?
Rende-se à vingança?
Esqueça & alinha
A tua energia na minha
Pois só tu andas & libera ondas
Que mexem com a minha sanidade
Só você me deixa assim
Pouso perdido liberando sonhos
Sozinho no ninho te pedindo abrigo
Então venha & esqueça
Teu orgulho ferido, menino
Venha & deleita-te
No nosso sonho de linho
Nego-te, rejeito-te, repilo-te
E encontro mil sinônimos mais
Para dizer que não te quero!
Ora, pois se temos o dom da fala
Que falemos!
Pois se temos o dom de amar
Que amemos!
Una tuas vogais & consoantes
Mexa estrategicamente a tua língua
E fale, criatura, fale!
Encontre o resto de amor que existe
Nesse corpo cafajeste que te toma
E ame, menino, ame!
Pensas que já não podes mais?
Temes o abandono?
Não podes perdoar?
Rende-se à vingança?
Esqueça & alinha
A tua energia na minha
Pois só tu andas & libera ondas
Que mexem com a minha sanidade
Só você me deixa assim
Pouso perdido liberando sonhos
Sozinho no ninho te pedindo abrigo
Então venha & esqueça
Teu orgulho ferido, menino
Venha & deleita-te
No nosso sonho de linho
sexta-feira, 8 de maio de 2009
por enquanto*
meu tempo tem passado entre o simples & o ocupado, cansaço de presenças, silêncios, de ausências & falatórios. tenho ápices de crises, seguidas de arrependimento, mas também tenho estado feliz, no auge do pieguismo do termo. tenho agüentado bem as zicas & vouyerismos alheios, apesar da irritação latente e das dores de cabeça. não sei bem qual é o motivo, mas parece que há pessoas que nasceram para desacreditar da tua capacidade. assim como um dos heteronômios de fernando pessoa, estou farta de semideuses. a humanidade virou um porre, feita de gente que morre de medo de amar. humanos de isopor & papelão, abandonados nas esquinas de suas distorcidas percepções. e eu me incluo. mas estou curtindo bem a minha liberdade e sei que ela me será útil nos próximos meses. imprevisíveis. por enquanto, saboreio o que a vida me dá, mesmo que não seja tudo aquilo que espero. sem grandes paixões, iras ou paranóias, tento não seguir nada nem ninguém vento a fora. estou um belo exemplar de neo-budista-oshoísta: estou onde preciso estar e sou o que devo ser. por enquanto...
* escrita espontânea possivelmente sem nexo.
domingo, 3 de maio de 2009
Menino Bonito
Rita Lee
Lindo!
E eu me sinto enfeitiçada
Correndo perigo
Seu olhar
É simplesmente
Lindo!...
Mas também não diz mais nada
Menino bonito
E então quero olhar você
Depois ir embora
Ah! Ah!
Sem dizer o porquê
Eu sou cigana
Ah! Ah!
Basta olhar prá você...
E eu me sinto enfeitiçada
Correndo perigo
Seu olhar
É simplesmente
Lindo!...
Mas também não diz mais nada
Menino bonito
E então quero olhar você
Depois ir embora
Ah! Ah!
Sem dizer o porquê
Eu sou cigana
Ah! Ah!
Basta olhar prá você...
Depois ir embora
Ah! Ah!
Sem dizer o porquê
Eu sou cigana
Ah! Ah!
Basta olhar prá você...
Lindo!
E eu me sinto enfeitiçada
Correndo perigo
Seu olhar
É simplesmente
Lindo!...
Mas também não diz mais nada
Menino bonito
E então quero olhar você
Depois ir embora
Ah! Ah!
Sem dizer o porquê
Eu sou cigana
Ah! Ah!
Basta olhar prá você...
E eu me sinto enfeitiçada
Correndo perigo
Seu olhar
É simplesmente
Lindo!...
Mas também não diz mais nada
Menino bonito
E então quero olhar você
Depois ir embora
Ah! Ah!
Sem dizer o porquê
Eu sou cigana
Ah! Ah!
Basta olhar prá você...
Depois ir embora
Ah! Ah!
Sem dizer o porquê
Eu sou cigana
Ah! Ah!
Basta olhar prá você...
enfant terrible
o inverno acabou antes mesmo de começar. não sei se fico triste ou se comemoro. tudo terminou de repente e tão sem jeito de fim e eu tinha tanto pra dizer. queria que você pudesse entender, queria uma chance de dizer, de tentar fazer melhor. mas nem sei se é isso mesmo que eu queria. é tão engraçado como as coisas não fluem. como as palavras ditas & não ditas pairam no ar depois que tudo se vai. o barulho da pequena televisão de circo; o som do velho carro; a edith piaf que você não gostava misturada ao cheiro de incenso, dos lençóis desarrumados, do mousse de maracujá, do vinho tinto que bebi até ver o fim. meus maiores dons eram, pra ti, defeitos exorbitantes. e a recíproca é verdadeira. tu me odiastes pelos motivos errados. eu não te amei pelos mais insignificantes motivos. não gosto do teu perfume, do teu tom de don juan, da tua pele e do teu jeito de menino. tu não és quem eu sempre sonhei, nem eu sou. pra ti, sou uma velha escritora que esqueceu-se de como eram bons os tempos de juventude pois está ocupada demais escrevendo as suas linhas tortas. hilariante. “sim, querido, me sinto jovem outra vez”, dizia eu para amenizar a pergunta desconectada do enfant terrible, quando na verdade queria manda-lo pra putaqueopariu, o mais rápido possível. best sellers? revistas consagradas? músicas oitentistas? ah, meu deus. nossas manhãs despertavam com teus tecnos desesperados & ensurdecedores, e ainda assim eu tinha dias doces. mistérios amorosos. e ele nunca mais vai voltar. mas nunca é tão longo. eu nem sei se quero que ele volte. que tudo fique assim, essa volta revolta sem fim. melhor assim, antes que eu te ame, antes que você me esqueça, antes que o novo mês comece e isso realmente doa. o problema maior, agora, é teu: eis que a tua vida vira crônica.
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