Gim com tônica
Rock no carnaval
Privilégio de poucos viajantes do Velho Oeste – que partiram de ônibus mágicos em seletas dúzias de cidades como Xanxerê, Xaxim, Chapecó, Joaçaba e São Miguel d’Oeste, o festival, que aconteceu de 20 a 24 de fevereiro, reuniu, além dos oestinos e demais catarinas, seres de vários estados, como Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
Longe das parafernálias, tramas e paranóias tecnológicas, os dias de deleite na quarta edição do Psicodália “obrigaram” os peregrinos a gastar suas horas sem computadores, celulares e televisões! Em compensação, tiveram ao alcance das mãos oficinas variadas – de artesanato, massagem oriental, teatro e outros –, bem como shows e espetáculos, podendo instalar-se em meio a vibrantes montanhas, de suculentos cogumelos e de riachos convidativos, em acampamentos de “piras” diferentes e próprias, dos mais tranqüilos aos mais festivos, de nomes pitorescos, como “Mutantes”, “Secos & Molhados” e “Vale das Maçãs”, remetendo à grandes bandas de rock brasileiras.
Bandas estas que inspiraram novos grupos independentes, que dificilmente teriam espaço na mídia, entre eles Casa de Orates, O Sebbo, Pata de Elefante e Zé Trindade. Nomes deram o ar da graça no carnaval do rock, harmonizando espaços com uma banda das antigas, Som Nosso de Cada Dia, formada na década de 1970, que fez, no festival, seu terceiro show após a volta recente; e com o ícone crítico e profético Plá, músico e compositor meio bicho-grilo, que tem nada mais, nada menos do que 36 CDs gravados.
O difícil é não associar o Psicodália ao Woodstock. Entretanto, para alguns, pode ser ainda mais complicado imaginar que hoje em dia é possível reviver um festival desse gênero. Porém, o Psicodália é uma prova de que a nossa geração, habituada desde tão cedo aos cenários urbanóides, quer, precisa e retorna, aos poucos, à vida dos pais e avós, com uma nova roupagem, é claro, com um baita “medo da chuva” (né, Raulzito?!), mas com elementos em comum, já que, afinal de contas, a história é cíclica e “tudo deve passar”, como diria Renato Russo.
* Uma das lendas do festival é a Lenda de Wagner. Conta-se, em uma das diversas versões, que certa vez um rapaz chamado Wagner se perdeu no Psicodália e que seus amigos puseram-se a chamá-lo. Desde então, os participantes gritam o nome “Wagner”, ainda que ele não esteja lá, perpetuando o chamamento como marca do festival.