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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

“era uma vez o amor, mas tive que mata-lo”



e agora fico com esse semblante de desassossego na cara
com essa cara de quem caiu na rede sem querer
crio vermes possessivos entre os vãos da cabeça
te desvirtuo, te amaldiçôo, oh, demônio azul possessor
por que você foi bater em minha porta noturna
a procura de prazeres fáceis, dom quixote oestino?
deu com os burros & os planos n’água, pervertido andante!
mas eu queria adentrar nesse oceano suspenso dos teus olhos
fazer de ti o meu dilúvio na madrugada serena
rasgar tuas vestes, teu peito, dilacerar com as mãos
aprisionar-te sem ver em meio a essa floresta de sonhos
negra, impura, cálida & vil do amor dos vivos
queria ver o corpo derreter em medos & delírios
toda a aura juntar-se ao meu sol particular
e quando finalmente amanhecesse & tu estivesses entregue
dar-te o sono dos mortos, sem pestanejar em velórios
fazer do teu sangue a minha champanhe mais cara
roubar-te, em pesadelos, os segredos de infância
lançar-te nos divãs da inconsciência
arrancar suspiros, gemidos & sussurros
depois devolver-te ao lugar de onde veio
jogar-te como carniça entre as hienas pedantes
em cada naco teu, uma dentada profunda
de boca em boca viajando à prazo
e quando tua alma saísse do corpo
que liberasse todo o odor do meu amor incrustado
pairando no ar feito um perfume demente
envelhecido & persistente, juntando-se a fumaça dos umbrais
e se mesmo assim o meu amor persistisse
mataria a mim mesma, sem dó nem piedade
para depois procurar-te, patética, pelas estradas
que eu mesmo joguei-te por amor

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