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sábado, 11 de setembro de 2010

“Estranhas Cores Fantásticas”

O poético baile de máscaras de um pierrô que escreve com seu espírito tão... “palidamente colorido”

Um dia Marciano Jr. Maraschin ouviu dizer que para se escrever era preciso pegar vários “recortes de palavras de jornais”, colocar em um “liquidificador” e ver no que ia dar. Foi mais ou menos isso que ele fez, através da livre associação ou, como costumo chamar, da escrita inconsciente, ele pegou “recortes” de influências, experiências e visões pessoais que andavam perdidas pela mente e colocou-as em forma de poesia, que resultou em seu livro alternativo/independente chamado “Estranhas Cores Fantásticas”.

Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Jim Morrison, da banda The Doors, e João Ricardo, dos Secos & Molhados, foram as principais influências desse poeta de apenas 23 anos que mora em Lindóia do Sul (SC), interior de Concórdia. Um cenário, diga-se de passagem, bem rimbaudiano[1].

Há dois anos Marciano escreve poesias e antes disso compunha letras de música anarquistas para sua extinta banda punk Vermes do Subúrbio. Algumas dessas letras também estão no livro que considerei “palidamente colorido”, por ser, a primeira vista, de conteúdo alegre, mas que logo percebe-se o aspecto obscuro e triste que se esconde entre as linhas e atrás da máscara ou da maquiagem cheia de cores. São poesias de pierrô, de um palhaço triste, que, ao invés de passar alegria – sentimento que o personagem palhaço deveria representar – transmite sensações lúgubres.

Marciano diz que o conteúdo do livro provém de uma desilusão total, da perda da inocência ou talvez dos seus acessos a paraísos artificiais[2] e que é direcionado para aqueles que tem viseiras, “como as que os cavalos usam”, diz Marciano, que são “escravos”, não para os “loucos”. Apesar disso, são os “loucos”, aqueles que o poeta diz falar de igual para igual, que mais lêem, compreendem a sua obra e o ajudam a vendê-la, já que optou por imprimir seus escritos através de uma gráfica, pois nem passou por sua cabeça ir atrás de editoras, pela modéstia em acreditar que seus poemas não seriam aceitos ou bons o suficiente e até mesmo por julgar que só quem possui dinheiro consegue publicar conteúdos provocativos, o que não deixa de poder ser uma verdade.

Devido a sua escolha, Marciano enfrentou os problemas em conseguir patrocínio do comércio, sofrendo muita resistência. “É por isso que o Brasil está deste jeito, o pessoal não quer investir em cultura”, comenta. De qualquer maneira, ele conseguiu reunir um bom número de apoiadores e editar o seu livro. Esse deveria ser um meio para que ele conseguisse subsídios financeiros para gravar o CD da sua atual banda, Australopithecus Cintilante, e para partir para outras paragens, conhecer outros lugares, coisa que ele sabe bem fazer através de seus poemas e que oferece a todos que tiverem coragem de aceitar essa viagem poética, seja “louco” ou “escravo”, abstrato ou concreto, surreal ou simplesmente real, que viva de literatura ou submerso em números, não importa. O que importa é aceitar o desafio e ele já está lançado.


Título: “Estranhas Cores Fantásticas”

Autor: Marciano Jr. Maraschin

Ano: 2005

Valor: R$ 5,00



[1] O poeta francês Arthur Rimbaud também morava em uma pequena cidade chamada Charleville;

[2] Termo utilizado pelo poeta francês Charles Baudelaire que faz alusão ao consumo de drogas.


(Publicado há milhares de anos no Passe a Folha)

Um comentário:

O Segredo dos Escritores disse...

olá!
tudo bom???
muito prazer,me chamo Augusto César...
gostei muito do seu blogger. show de bola!
estou lhe seguindo,me siga também???
http://osegredodosescritores.blogspot.com/